Hoje acordei propensa às reminiscências. Sentindo vontade de percorrer o quintal da minha casa na Rua Barata Ribeiro em Copacabana,Rio de Janeiro, onde na infância eu apostava corridas, tentando um campeonato de patins com minhas amigas e caindo da gangorra enquanto meu irmão pulava antes do tempo.
A bola não parava
levando-se em conta que nessa época minhas irmãs não haviam nascido, os da
minha idade eram apenas homens e eu gostava de disputá-la com eles , deixando
muitas vezes que ela caísse na vizinha que não estava disposta a participar das
brincadeiras e imediatamente fazia queixas à minha mãe.
Quando estava
cansada de brincar com meus irmãos ou primos corria para dentro de casa e
sentada no escritório de meu pai, procurava livros naquela biblioteca imensa e
acabava descobrindo um mundo que sempre adorei,imergindo nas páginas que me
deixava concentrada, esquecendo por vezes os deveres da escola. Ler era meu
mundo encantado e esquecia tudo que me cercava para fazer parte do conteúdo dos
livros que eu curtia compulsivamente.
Escrevia com prazer
imenso em qualquer momento da minha vida. E deixava que as palavras saíssem sem
censuras espargindo meu coração que precisava transmitir com veemência. Parecia
que eu só tomava consciência do que escrevera algum tempo depois de concluir o
texto e aí sim, entendia o que quisera dizer.
Quando estava
entediada ou queria ficar sozinha ia até à praia que era pertinho da minha casa
e deixava que meus pés ou meu corpo fossem molhados pelas ondas brancas e nem
sempre mansas. Falava com o mar, contava meus desejos e sonhava
inexplicavelmente com o infinito que se me apresentava inatingível,como as
faixas coloridas do horizonte e sabendo da impossibilidade de alcançá-las
deixava que o sol queimasse devagarzinho minha pele clara.
Muitas vezes alguém
da minha casa vinha me buscar sabedoras desse passeio quase constante nos dias
de sol intenso. O mar, a areia clara, e o horizonte distante sempre foram as
mais encantadoras formas de poder transmitir minhas emoções. E continua a ser ,
só que parece-me que esse mesmo horizonte está mais perto e sinto-o como algo
que se aproximou em dias subseqüentes em que aprendi a conhecer a vida e a
forma de procurar sobrepujar os obstáculos. Será isso que nos faz mais
compreensivos em relação à passagem do tempo?
Ao completar dez
anos soube que minha mãe esperava outra criança e tive certeza que seria uma
menina. Estava cansada de compartilhar as brincadeiras de cinco irmãos sempre
em discussão constante e sentia necessidade de olhar e amar uma irmãzinha e foi
o que aconteceu. Nasceu uma mulher e fiquei entusiasmada com o rosto delicado e
bonito amei-a instantaneamente, compreendi mesmo ainda muito cedo a
necessidade de defendê-la levando em conta que era mais frágil do que eu. Em
seguida nasceu outra menina que também foi algo muito importante para mim, mas
Cristina e eu estávamos sempre juntas e apesar da diferença de idade nos
compreendíamos muito. Até hoje estamos profundamente ligadas e somos
confidentes inseparáveis.
Ainda revejo os
tempos de criança há muitos anos quando olhava deitada num canto do jardim
minhas estrelas brilhantes algumas das quais eu e meu irmão mais velho
nomeávamos à noite nos dias de verão.
O colégio Sacré
Coeur de Marie onde estudei, foi algo que marcou tanto que até hoje me revejo e
jamais poderei deixar de lembrar cada dia que passei lá. E olhe que foi um
longo período desde muito pequenina.
O tempo passou,
tive uma adolescência conturbada, mas o que me incentivou profundamente foram
as lições que aprendi nesse caminho e a certeza que a única forma de sermos
realmente felizes é saber estender a mão sempre e entender que por vezes as
coisas que nos perturbam nos fazem compreender a vida, ser feliz e desenvolver
um amadurecimento sadio e compreensivo.
Vânia Moreira Diniz
Belíssimo texto, minha amiga!
ResponderExcluirTive a oportunidade de conhecer sua irmã na Noite Literária. Fiquei feliz demais! Pena que tivemos pouco tempo para conversar.
A infância e a adolescência certamente têm papéis muito importantes na nossa formação, mas o melhor disso tudo é que somos seres riquíssimos em recursos adaptativos e de auto-superação.
Obrigada, por nos trazer essa sua experiência.
Beijos
Nena
Gosto muito dos seus textos, Vânia! Você teve uma bela e agradável infância, retratada em alguns textos que eu conheço. Bjs.
ResponderExcluirDalca
Oh mana!!! Emocionada, bastante. Lindo participar de suas recordações. Lindo descrever o amor que nos une e a beleza de nossa parceria. Sinto-me privilegiada por ter sido recebida com tanto amor e caminhar lado a lado com você. A descrição da casa é anterior a meu nascimento, mas vejo que não mudou muito através dos meus anos de infância. Tenho em meu coração, guardado como tesouro, cada canto daquela casa. Posso passear lentamente por ela, sentir a alegria, o barulho, a terra do quintal, as plantas, o jardim. Lembra daquela samambaia chorona? E aquele jardim? A escada que quase sempre descíamos pelo corrimão? Ah como é bom ter estas recordações, como é bom saber dela pela delicadeza de suas palavras... Beijão mana. Saudades.
ResponderExcluirQuerida Escritoramiga Vaninha,
ResponderExcluirGrata pela presença!
Tem dias que perfazemos nossa história e novos elementos surgem. Tuas reminiscencias sãoagradáveis e trazem reflexões sobre a bonita amizade .
abraços de tua leitora, aprendiz e manamiga vica
virgínia
muito bom o texto e retrata com clareza a sua infância....bjs
ResponderExcluirMônica
Querida Escritoramiga Vaninha,
ResponderExcluirGrata pela presença!
Tem dias que perfazemos nossa história e novos elementos surgem. Tuas reminiscencias são agradáveis e trazem reflexões sobre a bonita amizade.
abraços de tua leitora, aprendiz e manamiga vica
virgínia
Vânia querida
ResponderExcluirCoisa boa é recordar o que foi bom da vida. Já comentei o texto e seu blogue na mensagem da Virgínia. Tudo maravilhoso, inclusive você que não envelhece nunca.
Bjos e mais bjos
Maizé
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