Ontem recebi uma visita preciosa. A emoção foi tão grande
que as lágrimas toldavam meus olhos a todo momento principalmente quando a
abracei e senti o amor de minha
professora Mère Menino Jesus (Irmã Ilza) e a sensação dos velhos tempos de
que perto dela nada podia me acontecer.
Quando a conheci ela era muito jovem encantou a minha turma
com a força de seu sorriso, de sua saltitante alegria, de seus passos leves e
firmes, de seu olhar terno que sabiam fixar com energia quando era necessário.
Aprendi com Irmã Ilza a ser verdadeira, pensar nas coisas
boas que Deus nos oferecia, no valor da ética e da necessidade de aprender
sempre mais e a ser correta nos momentos em que uma decisão devia ser tomada.
Relembrava sua figura na sala de aula em
que foi estímulo para minhas colegas e para mim e nas inúmeras
ocasiões em que aprendemos a discernir o bem do mal, dormir com a consciência
tranquila e nos alegrar sempre, estender as mãos aos que precisavam de nós ou
nos arrepender de sentimentos considerados inoportunos.
Ontem foi um dia de recordações positivas, em que apreciamos
as fotos antigas da nossa turma, falamos de cada uma e em que ela ouviu tudo que
ocorrera durante o meu trajeto até hoje. Também pude sentar perto de minha
professora ouvindo-a, sentindo suas emoções intensas, reiterando o quanto de
admiração e carinho intenso sempre senti por essa mulher maravilhosa.
Tinha-me encontrado algumas vezes com ela, depois que saí do
colégio, mas nesse momento, com a maturidade que acumula a sabedoria, estávamos
ela e eu verdadeiramente unidas pelo sentimento do passado e principalmente da
noção exata do que era vida e mesmo com o passar do tempo, do caminho que já
era longo, tinha convicção de que suas palavras ainda me traziam muita
experiência, exercício de aprendizado, conforto e amor.
Mère Menino Jesus marcou a vida daquela sua primeira turma
que olhava para a jovem freira cheia de surpresa e entusiasmo afirmando para
nós mesmas o quanto tínhamos sorte de tê-la como professora de história, e mestra de classe , o
que significava que ela era responsável pela nossa turma naquele ano.
O tempo todo enquanto almoçávamos e depois conversando horas
a fio eu não podia acreditar que Mère Menino Jesus estava ali, tão perto de mim,
olhando-me com aquela ternura que eu conhecia tão bem e que naqueleinstante eu
não precisava ensinar, proteger minha filhas, netas e bisnetinha, mas sim sentir o conforto, aconchego e proteção.
Ao mesmo tempo pensei o quanto era importante para mim,
olhar para Irmã Ilza, agora com 84 anos e sentir alegria ao segurar sua mão enquanto
atravessávamos uma rua, quando fomos deixá-la ou ajudá-la a levantar-se mais
suavemente do sofá.
No entanto, a sensação era de que ela nunca deixaria de ser
a minha professora, protetora, com ensinamentos profundos e muito
discernimento. Ela estava ali, perto de mim, com lucidez absoluta, sabedoria
ainda maior que nos velhos tempos , experiência dos anos vividos ainda mais
acirrada, e eu ali a observar com a mesma admiração do meus tempos de garota.
Cheguei à maturidade, mas pude usufruir no dia de ontem um
privilégio que poucas pessoas experimentam, de receber uma visita preciosa que marcará
mais uma vez o resto de minha vida.
Obrigada Mère Menino Jesus, obrigada pelos anos que conviveu comigo,
pelos ensinamentos que me deu, pela certeza do que é realmente o nosso bem maior na estrada
que trilhamos e pelo abraço que eu ficarei sentindo e as palavras e lágrimas
que não se apagarão jamais!
Vânia Moreira Diniz