sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Minha Professora, Mère Menino Jesus


Ontem recebi uma visita preciosa. A emoção foi tão grande que as lágrimas toldavam meus olhos a todo momento principalmente quando a abracei e senti  o amor de minha professora Mère Menino Jesus (Irmã Ilza) e a sensação dos velhos tempos de que perto dela nada podia me acontecer.
Quando a conheci ela era muito jovem encantou a minha turma com a força de seu sorriso, de sua saltitante alegria, de seus passos leves e firmes, de seu olhar terno que sabiam fixar com energia quando era necessário.
Aprendi com Irmã Ilza a ser verdadeira, pensar nas coisas boas que Deus nos oferecia, no valor da ética e da necessidade de aprender sempre mais e a ser correta nos momentos em que uma decisão devia ser tomada.
 Relembrava sua figura na sala de aula em que foi estímulo para minhas colegas e para mim e nas inúmeras ocasiões em que aprendemos a discernir o bem do mal, dormir com a consciência tranquila e nos alegrar sempre, estender as mãos aos que precisavam de nós ou nos arrepender de sentimentos considerados inoportunos.
Ontem foi um dia de recordações positivas, em que apreciamos as fotos antigas da nossa turma, falamos de cada uma e em que ela ouviu tudo que ocorrera durante o meu trajeto até hoje. Também pude sentar perto de minha professora ouvindo-a, sentindo suas emoções intensas, reiterando o quanto de admiração e carinho intenso sempre senti por essa mulher maravilhosa.
Tinha-me encontrado algumas vezes com ela, depois que saí do colégio, mas nesse momento, com a maturidade que acumula a sabedoria, estávamos ela e eu verdadeiramente unidas pelo sentimento do passado e principalmente da noção exata do que era vida e mesmo com o passar do tempo, do caminho que já era longo, tinha convicção de que suas palavras ainda me traziam muita experiência, exercício de aprendizado, conforto e amor.
Mère Menino Jesus marcou a vida daquela sua primeira turma que olhava para a jovem freira cheia de surpresa e entusiasmo afirmando para nós mesmas o quanto tínhamos sorte de tê-la como professora de história, e mestra de classe , o que significava que ela era responsável pela nossa turma naquele ano.
O tempo todo enquanto almoçávamos e depois conversando horas a fio eu não podia acreditar que Mère Menino Jesus estava ali, tão perto de mim, olhando-me com aquela ternura que eu conhecia tão bem e que naqueleinstante eu não precisava ensinar, proteger minha filhas, netas e bisnetinha, mas sim  sentir o conforto, aconchego e proteção.
Ao mesmo tempo pensei o quanto era importante para mim, olhar para Irmã Ilza, agora com 84 anos e sentir alegria ao segurar sua mão enquanto atravessávamos uma rua, quando fomos deixá-la ou ajudá-la a levantar-se mais suavemente do sofá.
No entanto, a sensação era de que ela nunca deixaria de ser a minha professora, protetora, com ensinamentos profundos e muito discernimento. Ela estava ali, perto de mim, com lucidez absoluta, sabedoria ainda maior que nos velhos tempos , experiência dos anos vividos ainda mais acirrada, e eu ali a observar com a mesma admiração do meus tempos de garota.
Cheguei à maturidade, mas pude usufruir no dia de ontem um privilégio que poucas pessoas experimentam, de receber uma visita preciosa que marcará mais uma vez o resto de minha vida.
Obrigada Mère Menino Jesus, obrigada pelos anos que conviveu comigo, pelos ensinamentos que me deu, pela certeza do que é realmente o nosso bem maior na estrada que trilhamos e pelo abraço que eu ficarei sentindo e as palavras e lágrimas que não se apagarão jamais!
Vânia Moreira Diniz

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Meu Pai (em homenagem ao dia dos pais)

João da Rocha Moreira - Meu pai
 Acho que nenhuma fisionomia me impressionou tanto quanto a de meu pai. Tinha traços marcantes e  os olhos azuis brilhavam imensos sempre revelando o que sentia interiormente. Eram os verdadeiros espelhos de sua alma. Sabíamos perfeitamente, meus irmãos e eu, o exato momento que podíamos conversar descontraidamente com ele ou aquele que seria perigoso fazê-lo. A não ser que fôssemos portadores de alguma notícia realmente esplendorosa.

        Era advogado  e essa profissão naquele homem especialmente inteligente, sensível, impetuoso e radicalmente reto e convicto me fascinava. Poderia ficar horas ouvindo-o e apreciando o dom de sua palavra fácil e sedutora. Mas claro, havia oportunidades em que nossas personalidades se esbarravam e minha mãe costumava dizer que entrávamos em conflito porque éramos parecidos de temperamento.

        Escrevia magistralmente e suas palavras  que eu ouvi diversas vezes em conferência e que explodiam ao som de seu timbre vigoroso   me entusiasmavam e ele me cativava cada vez mais como a todas as pessoas que o conheciam pela sua extraordinária capacidade.

         Tinha idéias arejadas e espírito aberto embora fosse totalmente exigente  em seus conceitos e idéias. Jamais me proibiu e até estimulava  meus vestidos modernos, decotados e curtos, namoros e distrações, mas jamais se conformou  com as peças de teatro que eu queria encenar. Eram brigas constantes e inócuas para mim porque sabia que sendo menor teria que obedecer, e isso muitas vezes me  deixava um sabor de mágoa.

         A vida jamais foi monótona tendo como pai aquele homem tão vibrante, seguro e maravilhosamente imprevisível. Suas gargalhadas ressoavam sempre extremamente agradáveis, mas o contraste era surpreendente. Realmente era uma pessoa fascinante pelos antagonismos: Doce e firme, sensível e arrebatado, compreensivo e por vezes intolerante, possuía como principal atributo além da inteligência brilhante e da cultura invulgar a vontade inabalável de ajudar a quem se lhe aproximasse.

         Nunca esqueço uma das conversas que tive com ele dentre muitas e que me deslumbrava, embora seus momentos de exuberância nervosa me deixassem tensa e preocupada. Estávamos almoçando juntos como várias vezes acontecia num restaurante de Copacabana no meu querido Rio de Janeiro. Eu era apenas uma garotinha de mais ou menos 13 anos, mas adorava trocar idéias com ele. Havíamos perdido há pouco meu irmãozinho de cinco anos, seu filho  e estávamos todos muito abalados. Nesse período vi que ele era o esteio da minha família em termos de fortaleza e entendimento dos momentos dolorosos da vida. Além da alegria que procurava impregnar à sua volta estava sempre pronto para um momento difícil e tempestuoso. Perguntei.-lhe se voltasse no tempo como seria sua vida. E se ele deixaria de fazer ou mudaria alguma coisa.

        Olhou-me fixando-me seus extraordinários olhos azuis e disse sem vacilar:

        _ Não, filha, não mudaria nada. Faria exatamente a mesma coisa. Daria os mesmos passos, apenas com mais experiência.Não me arrependi de nada do que fiz até hoje. Ninguém evita sofrimentos tentando mudar seu caminho, Vânia. Se não for de uma forma será de outra. Mas o sofrimento existe e teremos que enfrenta-los da melhor maneira tentando achar o modo mais adequado para vencê-los na hora certa. E teremos muitas vezes dias nebulosos e tristes. Assim como passaremos por momentos de felicidade indescritível. Isso se chama viver.

        Não pude responder porque as lágrimas me apertavam a garganta e a admiração interceptava minhas palavras. Mas essa conversa difícil e ainda prematura estão servindo de lição e força nas horas sérias e aflitivas e de estímulo e acolhedora lembrança nos alegres e ruidosos momentos de felicidade luminosa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Maturidade, uma conquista

Sei que é  difícil falar de maturidade porque frequentemente a confundimos com idade. É claro que é normal que ela venha com o passar dos anos e embora frequentemente estejam juntas as sensações são completamente diversas.

Em geral todos nós temos uma atitude negativa quando pensamos em “tempo vivido” e quando percebemos sinal do tempo, como os cabelos brancos, que começam a aparecer. Aprendemos com tudo que nos cercou desde a infância a encará-la como um lobo mau e geralmente se experimenta um sentimento de nostalgia frente ao mundo dinâmico, brilhante e com novas técnicas induzidas de “juventude”.

À medida que o tempo decorre um pavor vai tomando conta das pessoas como se esse momento não fosse uma nova fase que poderá resultar, malgrado algumas limitações, numa riqueza desconhecida que poderemos explorar com alegria.

A maturidade é um desses pontos positivos embora exista muito jovem com maturidade e velhos que carregam uma infantilidade nada agradável porque sua estabilidade emocional se ressente com a falta de segurança que isso enseja ao contrário do que eles pensam.

A maturidade mais aprazível é aquela que aprendemos com o correr das experiências e uma das formas mais certas de aprendizado é o sofrimento. Quando ultrapassamos aquele período de dor surge uma sensação de segurança e tranquilidade jamais experimentada em outros períodos da vida.

Maturidade é uma aquisição muito feliz e a percepção que podemos dominar nossos próprios dragões e ultrapassar mágoas ou sentimentos pequeninos mudando a cada passo valores que na extrema juventude nos perturbavam é realmente fascinante.No sentido mais amplo.

Os valores mudam muito rapidamente apesar de só notarmos isso repentina e inadvertidamente e quando acontece parece estranho, mas a verdade é que é uma conquista realmente poderosa e bem-vinda.

Quando a maturidade vem junto com valores primordiais de conhecimento, necessidade de saber e procurar aprofundamento de verdades que antes nos passavam despercebidas e principalmente doçura, ternura  pelo mundo, envolvimento em amor universal, preocupação com o outro  e certeza que, embora continuando a errar, e muito, detectamos que precisamos ainda nos aperfeiçoar profundamente, a paz envolve nossas almas.

Claro que nos perturbamos nesse momento ainda mais com a violência, truculência, indiferença, pobreza , fome, desamor mas há uma percepção que podemos lutar com uma força e esperança que só a maturidade nos transmite.

A vaidade passa a atuar mais profundamente em duas vertentes e nos preocupamos com o interior tanto quanto o fazemos com o exterior para que ambas possam não se tocarem mas agirem como duas paralelas que estão sempre juntas sem haver prejuízo para uma ou para outra. Ser bela por dentro e por fora, existe conquista pessoal mais completa?

Esse é o grande segredo da satisfação plena.

Maturidade é compreender que nenhuma mágoa pode ser tão importante a ponto de nos fazer sofrer e que às vezes é melhor não dizer coisa alguma a entristecer o nosso próximo e quanto mais próximo mais precisamos desse exercício de conscientização.

E também entender que as pessoas na maioria das vezes não querem nos ferir quando dizem algo que atinge nossa alma e que é preferível sempre ser magoado a magoar. Pelo menos não teremos nosso coração doendo e poderemos dormir em paz. Mas creio que  só a maturidade é capaz de entender perfeitamente esses conceitos.

A maturidade também nos faz entender que as lágrimas foram feitas para serem derramadas tanto no sofrimento como na alegria e que não é feio chorar quando isso nos alivia e principalmente quando acompanhamos alguém que está precisando de nosso apoio ou compreensão.

 Claro que como seres humanos enfrentamos momentos de tristeza ou depressão passageira mas é importante que se use essa experiência para evitarmos que isso se transforme em doença ou pelo menos se procure ajuda com médicos, terapeutas, analistas e em recursos que a ciência tornou profícua.

Maturidade no sentido mais positivo vem dos anos que já se foram mas consiste em aproveitar os ensinamentos para uma qualidade de vida melhor mas também mais digna enquanto se aprecia com mais objetividade todos os elementos da natureza como fonte de riqueza e engrandecimento da alma e se admira todos aqueles que podem nos transmitir sábios ensinamentos.

Maturidade  é plenitude de dias vividos que resulta em experiências frutificadoras, em olhar o mundo com mais amenidade e sentir que devemos deixar para nossos sucessores um exemplo de amor, saúde, compreensão e intolerância para os próprios erros.
Vânia Moreira Diniz
http://www.vaniadiniz.pro.br
http://academialetrasbrasildf.blogspot.com.br/
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