João da Rocha Moreira - Meu pai
Acho que nenhuma fisionomia me impressionou
tanto quanto a de meu pai. Tinha traços marcantes e os olhos azuis brilhavam imensos sempre
revelando o que sentia interiormente. Eram os verdadeiros espelhos de sua alma.
Sabíamos perfeitamente, meus irmãos e eu, o exato momento que podíamos
conversar descontraidamente com ele ou aquele que seria perigoso fazê-lo. A não
ser que fôssemos portadores de alguma notícia realmente esplendorosa.
Era advogado e essa profissão naquele homem
especialmente inteligente, sensível, impetuoso e radicalmente reto e convicto
me fascinava. Poderia ficar horas ouvindo-o e apreciando o dom de sua palavra
fácil e sedutora. Mas claro, havia oportunidades em que nossas personalidades
se esbarravam e minha mãe costumava dizer que entrávamos em conflito porque
éramos parecidos de temperamento.
Escrevia magistralmente e suas
palavras que eu ouvi diversas vezes em
conferência e que explodiam ao som de seu timbre vigoroso me entusiasmavam e ele me cativava cada vez
mais como a todas as pessoas que o conheciam pela sua extraordinária capacidade.
Tinha idéias arejadas e espírito
aberto embora fosse totalmente exigente
em seus conceitos e idéias. Jamais me proibiu e até estimulava meus vestidos modernos, decotados e curtos,
namoros e distrações, mas jamais se conformou
com as peças de teatro que eu queria encenar. Eram brigas constantes e
inócuas para mim porque sabia que sendo menor teria que obedecer, e isso muitas
vezes me deixava um sabor de mágoa.
A vida jamais foi monótona tendo como
pai aquele homem tão vibrante, seguro e maravilhosamente imprevisível. Suas
gargalhadas ressoavam sempre extremamente agradáveis, mas o contraste era
surpreendente. Realmente era uma pessoa fascinante pelos antagonismos: Doce e
firme, sensível e arrebatado, compreensivo e por vezes intolerante, possuía
como principal atributo além da inteligência brilhante e da cultura invulgar a
vontade inabalável de ajudar a quem se lhe aproximasse.
Nunca
esqueço uma das conversas que tive com ele dentre muitas e que me deslumbrava,
embora seus momentos de exuberância nervosa me deixassem tensa e preocupada.
Estávamos almoçando juntos como várias vezes acontecia num restaurante de
Copacabana no meu querido Rio de Janeiro. Eu era apenas uma garotinha de mais
ou menos 13 anos, mas adorava trocar idéias com ele. Havíamos perdido há pouco
meu irmãozinho de cinco anos, seu filho
e estávamos todos muito abalados. Nesse período vi que ele era o esteio
da minha família em termos de fortaleza e entendimento dos momentos dolorosos
da vida. Além da alegria que procurava impregnar à sua volta estava sempre
pronto para um momento difícil e tempestuoso. Perguntei.-lhe se voltasse no
tempo como seria sua vida. E se ele deixaria de fazer ou mudaria alguma coisa.
Olhou-me fixando-me seus
extraordinários olhos azuis e disse sem vacilar:
_ Não, filha, não mudaria nada. Faria
exatamente a mesma coisa. Daria os mesmos passos, apenas com mais
experiência.Não me arrependi de nada do que fiz até hoje. Ninguém evita
sofrimentos tentando mudar seu caminho, Vânia. Se não for de uma forma será de
outra. Mas o sofrimento existe e teremos que enfrenta-los da melhor maneira
tentando achar o modo mais adequado para vencê-los na hora certa. E teremos
muitas vezes dias nebulosos e tristes. Assim como passaremos por momentos de
felicidade indescritível. Isso se chama viver.
Não pude responder porque as lágrimas
me apertavam a garganta e a admiração interceptava minhas palavras. Mas essa
conversa difícil e ainda prematura estão servindo de lição e força nas horas
sérias e aflitivas e de estímulo e acolhedora lembrança nos alegres e ruidosos
momentos de felicidade luminosa.
Vaninha tua homenagem ao teu amado pai transmite ensinamentos valiosos, foi realmente um mestre de vida. Parabéns pelo tx. e grata por dividir conosco mais um capítulo de tua história de vida. abraço afetuoso de tua admiradoramiga virgínia fulber NHamburgo RS BR
ResponderExcluirLinda homenagem, Vânia.
ResponderExcluirNão poderia ser diferente. Diante de sua postura na vida, certamente seu pai foi um exemplo.
Parabéns pelo texto e pelo pai.
Lindo, mana. Oh saudade... E esta foto... parece que estamos diante dele. Obrigada por me proporcionar tanta emoção. Bks
ResponderExcluirTio João.....qta farra nas férias...
ResponderExcluirLindo pai, linda filha!!!!!
ResponderExcluirParabés. Pena nossos pais estarem mortos.
Beijos carinhosos
Maizé
Maria Lindgren