quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sonho Cibernético por Vânia Moreira Diniz

     Foto de Fernanda Moreira Diniz
                                                            
Acordei de madrugada, sonhando, suando frio, e não entendia o que se passava à minha volta.  A escuridão era tão grande que eu não conseguia enxergar absolutamente nada. Mas até aí tudo bem já que curto  intensamente escuro e quando durmo não gosto de enxergar nem um fio de luz.
       Cenas parece que do futuro, tinham se infiltrado nesse sonho maluco e estranho e eu via muitos anos à minha frente, tudo que poderia acontecer em termos de tecnologia. Abria o computador e não precisava nem ligar, as imagens apareciam fisicamente e eu senti tocando numa tela translúcida, a pele da pessoa com quem conversava.
        Tudo ali era real e ao mesmo tempo vindas de uma fantasia exacerbada. Meus olhos sondavam com persistência as pessoas, que apareciam em tamanho original, tomando conhecimento até dos assuntos que não poderiam saber sem que eu contasse.
         Não existia mouse, apenas um som de acordes estranhos e sem expressão repercutia impulsionando o funcionamento de tudo e sem aparelho que fizesse treinar para se adaptar ao computador. As palavras saiam diretamente do pensamento e concluíam numa espécie de formatação e nada podia pensar porque a máquina registrava.
         Olhava para fora e não existia uma natureza que eu aprendi a amar. Tudo parecia de uma funcionalidade que enlouquecia e as pessoas adivinhavam cada palavra pensada. No desespero eu queria chorar desabafar uma sensação de nó na garganta, mas ele se desfazia à simples menção de uma pseudo-emoção. Não existiam mais lágrimas e eu procurava desesperadamente me sensibilizar com alguma recordação forte e concreta, e quanto mais procurava isso mais me sentia fria e objetiva.
            Comecei a sentir um desespero, experimentava uma sensação, mas ela não conseguia aliviar, apenas ficava guardada interiormente, e os pensamentos, os mais recônditos continuavam a serem registrados como se fosse um aparelho ligado diretamente ao cérebro.
            Lembrava-me no sonho que  nunca fora assim, e então tentava ver como podia escrever meus poemas, e eles apareciam em sequência desordenada eu querendo trazer uma ênfase que não se manifestava e minha voz presa não saía e sentia falta de falar, dizer, manifestar meus carinhos , amor, ternura. Olhava em volta, sentia as pessoas e não sabia o que sentia em relação a elas, queria chorar e não podia, falar e estava muda e no excesso de incompreensão sem ter como manifestar, acordei fria, estática, suando muito, as lágrimas descendo abençoadas, os problemas a me lembrarem que eu era um ser humano normal da minha época e do meu tempo.
            
 E então agradeci à vida e ao mundo quando abri a janela e vi a natureza maravilhosa enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto, e lembrei o quanto de tristezas e alegrias ainda viriam, as pessoas que podiam me contemplar sem adivinharem meus pensamentos e o computador que eu ainda tinha que acionar para que ele obedecesse à minhas ordens. E a certeza que os sentimentos não foram tirados do meu coração e eu vibrava com uma sensação de felicidade, amor e muita vontade de lutar por tudo e por todos com a força da minha própria vontade indomável e voluntária.
Vânia Moreira Diniz

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